2 Capital de Giro
A administração do capital de giro é uma das áreas mais importantes, complexas e abrangentes da gestão financeira de uma organização. Ela se concentra nos recursos de curto prazo da empresa, ou seja, o ativo circulante e o passivo circulante, e como esses elementos se inter-relacionam. O objetivo primordial da gestão do capital de giro é gerar valor para os proprietários e stakeholders.
2.1 Capital de Giro (CG) ou Capital Circulante (CC)
O Capital Circulante (CC), também conhecido como Capital de Giro (CG), é a interpretação mais ampla do conceito e corresponde, em sua essência, ao ativo circulante de uma empresa. Ele representa o valor total dos recursos necessários para financiar o ciclo operacional diário da empresa.
As decisões de compra e venda da empresa, assim como suas atividades operacionais e financeiras, envolvem a administração do capital de giro. Sua função é garantir a execução adequada das políticas de estocagem, compra de materiais, produção, venda de produtos/mercadorias e prazo de recebimento.
A importância e o volume do capital de giro variam em função das características da empresa (como volume de vendas e sazonalidade), do desempenho da economia (fatores cíclicos), da tecnologia empregada e da política de negócios adotada.
2.1.1 Capital Circulante Líquido (CCL) ou Capital de Giro Líquido (CGL)
O Capital Circulante Líquido (CCL), frequentemente chamado de Capital de Giro Líquido (CGL), é uma das interpretações mais usuais do capital de giro. Ele representa o valor líquido das aplicações processadas no ativo circulante da empresa, após a dedução das dívidas de curto prazo.
A forma mais direta de calculá-lo é pela simples diferença entre o Ativo Circulante (AC) e o Passivo Circulante (PC):
\[CCL = \text{Ativo Circulante} - \text{Passivo Circulante}\]
De uma perspectiva mais rigorosa e conceitual, o Capital Circulante Líquido (CCL) representa a parcela dos recursos de longo prazo (recursos permanentes) que é aplicada em itens ativos de curto prazo (circulantes). Essa interpretação é feita “de baixo para cima” no balanço patrimonial, identificando os valores do passivo de longo prazo (próprios ou de terceiros) que estão financiando o ativo circulante. Algebricamente, pode ser obtido pela expressão:
\[ \begin{split} CCL = & (\text{Passivo Não Circulante} + \text{Patrimônio Líquido}) \\ & - (\text{Realizável a Longo Prazo} + \text{Ativo Permanente}) = (PNC + PL) - ANC \end{split} \]
Ambas as identidades resultam no mesmo valor para o CCL. Para uma empresa, um CCL positivo indica que parte de suas obrigações de longo prazo está financiando seu ativo circulante, proporcionando uma folga na liquidez. Isso significa que a empresa possui mais direitos a receber do que a pagar no curto prazo. No mundo real, espera-se que essa diferença seja positiva.
2.1.2 Capital de Giro Próprio (CGP)
O Capital de Giro Próprio (CGP) é um indicador de capital de giro que representa a parcela de recursos próprios que a empresa tem aplicada em seu ativo circulante. Ele é comumente obtido pela seguinte expressão:
\[CGP = \text{Patrimônio Líquido (PL)} - \text{Ativo Não Circulante (ANC)}\]
2.2 Dinâmica Empresarial: Análise dos Ciclos Operacional e Financeiro
Entender os ciclos operacionais e financeiros de uma empresa é essencial para a administração financeira de curto prazo, pois eles revelam a dinâmica dos fluxos de caixa e a necessidade de financiamento.
2.2.1 Ciclo Operacional
O ciclo operacional é o período que a empresa leva desde a compra de matéria-prima (ou mercadorias para revenda) até o recebimento das vendas de seus produtos.
Para uma manufatura, o ciclo operacional pode ser decomposto nas seguintes fases:
- PMEMP (Prazo Médio de Estocagem de Matéria-Prima)
- PMF (Prazo Médio de Fabricação)
- PMEPA (Prazo Médio de Estocagem de Produtos Acabados)
- PMR (Prazo Médio de Recebimento) ou PMC (Prazo Médio de Cobrança)
Ciclo Operacional Total (CO) = PMEMP + PMF + PMEPA (ou PME) + PMR (ou PMC)
No entanto, em um comércio essa “sopa de letrinhas pode ser simplificada”:
\[CO = PME + PMR\]
2.2.2 Ciclo Financeiro (Ciclo de Caixa)
O ciclo financeiro (CF), também conhecido como ciclo de caixa (CC), focaliza as movimentações de caixa, abrangendo o período entre o momento em que a empresa realiza os pagamentos e o momento em que recebe pelas vendas.
\[CC = CO - PMP\]
2.2.3 Cálculo dos Prazos Médios
As expressões de cálculo das durações de cada fase operacional, considerando um empresa comercial, são:
- Prazo Médio de Estoques (PME): \[PME = \frac{\text{Estoque Médio}}{\text{Custo das Mercadorias Vendidas Diário}}\]
- Prazo Médio de Recebimento (PMR): \[PMR = \frac{\text{Contas a Receber Médias}}{\text{Vendas Líquidas Diárias}}\]
- Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores (PMP): \[PMP = \frac{\text{Contas a Pagar Médias}}{\text{Custo das Mercadorias Vendidas Diário}}\]
2.3 Investimento em Capital de Giro
O investimento em capital de giro é fundamentalmente direcionado à sustentação da atividade operacional da empresa. As empresas enfrentam um dilema risco-rentabilidade na definição de suas políticas de investimento em capital de giro:
- Conservadora: Maiores saldos de caixa, política de crédito mais frouxa e maiores estoques. Reduz o risco de liquidez, mas pode diminuir a rentabilidade.
- Agressiva: Reduções progressivas nos investimentos em ativos circulantes. Eleva o risco da empresa, mas incrementa a rentabilidade.
- Média: Uma abordagem intermediária que busca um equilíbrio entre risco e rentabilidade.
A determinação do nível ideal de investimento exige um balanço entre os custos de carregamento (carrying costs) e os custos de falta (shortage costs).
2.4 Financiamento do Capital de Giro
As decisões de financiamento buscam a melhor proporção entre capital de terceiros e capital próprio.
- Comportamento das Taxas de Juros a Curto e Longo Prazos
Geralmente, o custo de um crédito a longo prazo é mais caro que o de curto prazo.
- Dilema Risco-Retorno na Composição de Financiamento
Optar por uma maior participação do passivo circulante pode aumentar os resultados líquidos (menores custos), mas também aumenta o risco financeiro.
2.4.1 Abordagens para o Financiamento do Capital de Giro
O capital de giro é classificado como permanente (ou fixo) e sazonal (ou variável). As principais abordagens de financiamento são:
- Abordagem pelo Equilíbrio Financeiro Tradicional: Ativo permanente e capital de giro permanente financiados por recursos de longo prazo; necessidades sazonais de capital de giro cobertas por exigibilidades de curto prazo.
- Abordagem de Risco Mínimo (Conservadora): A empresa é totalmente financiada por recursos permanentes (longo prazo).
- Abordagem Restritiva (Agressiva): Usa financiamento de longo prazo apenas para as necessidades permanentes de ativos imobilizados e capital de giro.
2.4.2 Fontes de Financiamento de Curto Prazo
As fontes podem ser espontâneas (contas a pagar a fornecedores, despesas a pagar) ou negociadas (empréstimos bancários, commercial papers, empréstimos com garantia).
2.5 Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NIG)
A Necessidade de Investimento em Giro (NIG) reflete o volume líquido de recursos demandado pelo ciclo operacional da empresa.
2.5.1 Distinção entre Componentes da NIG
A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é a diferença entre os usos operacionais (Ativo Circulante Operacional - ACO) e as fontes operacionais (Passivo Circulante Operacional - PCO):
\[NCG = ACO - PCO\]
2.5.2 Saldo de Tesouraria e o Efeito Tesoura
A diferença entre a Necessidade de Capital de Giro (NCG) e o Capital de Giro (CDG) é conhecida como Saldo de Tesouraria (ST):
\[ST = CDG - NCG\]
O “efeito tesoura” é uma situação crítica que ocorre quando o índice NCG/Vendas cresce de forma mais rápida do que o índice CDG/Vendas, levando a uma necessidade de aportes financeiros crescente.
Outros recursos didáticos
Nesta seção, falamos um pouco sobre os principais indicadores de eficiência da gestão de curto prazo, tal como ciclos (operacional e de caixa), prazos médios e investimento/financiamento do capital de giro.
Abaixo, você encontrará outros recursos didáticos que objetiva resumir os conceitos apresentados por aqui:
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