5 Administração de Estoques
A administração de estoques é uma área crítica da gestão financeira. Os estoques, por natureza, são ativos de baixa liquidez que imobilizam um volume significativo de capital. Uma gestão ineficiente pode comprometer tanto a rentabilidade, ao inflar os custos de carregamento e o capital empatado, quanto a liquidez, ao drenar recursos que poderiam ser alocados em outras necessidades de curto prazo.
O desafio central reside em um equilíbrio delicado:
Minimização do Investimento: Manter os níveis de estoque os mais baixos possíveis para otimizar a rotação, reduzir custos de armazenagem, seguro, obsolescência e, fundamentalmente, liberar caixa.
Maximização do Nível de Serviço: Garantir que não haja rupturas no processo de produção ou vendas, o que poderia levar à perda de clientes, desgaste da imagem da marca e custos de oportunidade irrecuperáveis.
5.1 Custos Relevantes
As decisões sobre o nível ótimo de estoques envolvem a análise de dois custos destoantes:
- Custos de Manutenção ou Carregamento: Custos para manter o estoque, como custo de capital, armazenagem, seguros e perdas. Aumentam com o volume estocado.
- Custos de Pedido (Compra) ou Preparação: Custos para adquirir um novo lote, como processamento, frete e recebimento. Diminuem à medida que o tamanho dos lotes aumenta (menos pedidos são feitos).
Um dos objetivos da gestão financeira de estoque é operacionar modelos de otimização para encontrar o ponto em que a soma desses dois grupos de custos seja minimizada. No entanto, antes de aplicar modelos de otimização complexos, é fundamental direcionar os esforços de gestão.
5.2 Controle Seletivo: A Curva ABC
Nem todos os itens de estoque possuem a mesma importância financeira. Para otimizar os esforços de gestão, os estoques são classificados pela sua importância financeira usando a Curva ABC, uma aplicação do Princípio de Pareto.
O Princípio de Pareto, ou regra 80/20, postula que, para muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas. Aplicado aos estoques, isso significa que uma pequena porcentagem dos itens em inventário (os 20%) tende a ser responsável por uma grande porcentagem do valor total de consumo ou venda (os 80%).
- Classe A: Poucos itens (ex: 20%) que representam a maior parte do valor (ex: 80%). Exigem controle rigoroso e modelos de otimização.
- Classe B: Itens de importância intermediária.
- Classe C: Muitos itens (ex: 50%) de baixo valor individual. Admitem controles mais simples.
A Curva ABC direciona a atenção gerencial para onde ela é mais crítica, garantindo que os itens mais valiosos (Classe A) sejam gerenciados com a máxima eficiência.
5.2.1 Simulador da Curva ABC
Abaixo você pode visualizar a metodologia de cálculo da Curva ABC em operação, ou você pode expandir essa versão interativa do simulador da Curva ABC clicando no link:
5.3 Decisões de Compra
A decisão de quando e como pagar por um lote de estoque é um problema clássico de valor do dinheiro no tempo. A metodologia tradicionalmente apresentada em finanças corporativas pode ser perfeitamente reenquadrada e aprofundada pela ótica da Equivalência de Capitais.
A análise compara diferentes propostas de compra (ex: à vista vs. a prazo) tratando cada uma na linha do tempo (diagrama de caixa). Nesse caso, a variável central é o período, que em nosso contexto, pode ser entendido pelo Ciclo de Caixa (CC).
\[ CC~(\text{dias}) = PME + PMR - PMP \]
Onde: \(PME\): Prazo Médio de Estocagem, \(PMR\): Prazo Médio de Recebimento e \(PMP\): Prazo Médio de Pagamento
O sinal do CC define quem financia a operação e qual taxa de juros (custo de oportunidade) utilizar.
5.3.1 Cenário 1: Ciclo de Caixa Positivo
A empresa paga o fornecedor antes de receber do cliente, precisando financiar a operação. A taxa relevante é o Custo de Captação (\(k_c\)).
O Diagrama de Fluxo de Caixa abaixo ilustra a saída de caixa (Custo) ocorrendo antes da entrada (Venda):
Empresa Financia
Custo (CMV)
Data de Pagamento (tp)
Venda (PV)
Data de Recebimento (tr)
5.3.2 Cenário 2: Ciclo de Caixa Negativo
A empresa recebe do cliente antes de pagar o fornecedor, sendo financiada pelo fornecedor. A taxa relevante é a Taxa de Aplicação (\(k_a\)).
Note como a ordem dos eventos se inverte no Diagrama de Fluxo de Caixa: a entrada (Venda) agora ocorre antes da saída (Custo).
Fornecedor Financia
Venda (PV)
Data de Recebimento (tr)
Custo (CMV)
Data de Pagamento (tp)
5.3.3 Formulação Geral
O resultado da operação (\(R\)) é calculado em uma data focal comum (\(t_r\), data de recebimento), usando a taxa apropriada:
\[ \text{R}_{t_r} = \text{PV} - \left[ \text{CMV} \times (1 + i)^{\frac{CC}{30}} \right] \]
Onde \(i = k_c\) se \(CC > 0\), e \(i = k_a\) se \(CC < 0\). \(PV\) é preço de venda que já se encontra na data \(t_r\) e \(CMV\) é o custo da mercadoria vendida capitalizado (se \(CC > 0\)) ou descapitalizado (se \(CC < 0\)) para a data \(t_r\).
5.3.4 Simulador Decisões de Compra
Abaixo você pode visualizar a formulação geral para tomada de decisões de compra de estoque em operação, ou você pode expandir essa versão interativa do Simulador de Decisões de Compra clicando no link:
5.4 Lote Econômico de Compra (LEC)
O LEC é um modelo de otimização que determina a quantidade ideal a ser comprada em cada pedido para minimizar os custos totais de gestão de estoques. Ele encontra o ponto onde os custos de manutenção se igualam aos custos de pedido.
A fórmula do LEC é:
\[ LEC = \sqrt{\frac{2 \times D \times C_p}{C_m}} \]
Onde: \(D\): Demanda total no período, \(C_p\): Custo de cada pedido e \(C_m\): Custo de manutenção por unidade.
Enquanto a análise anterior foca em decisões de compra pontuais, o LEC busca responder a uma pergunta recorrente: Qual a quantidade ideal a ser pedida em cada lote para minimizar os custos totais de gestão de estoques ao longo de um período?
5.4.1 Derivação do LEC
O LEC parte das premissas de demanda constante e conhecida, preço de compra constante, prazo de entrega (lead time) constante e conhecido e custo de manutenção e de pedido constante e conhecido, ou seja, o LEC é um modelo em condicões de certeza ou certa estabilidade preditiva.
O modelo se baseia em um trade-off:
- Pedir lotes grandes diminui o custo anual de pedidos (CP), mas aumenta o custo anual de manutenção (CM).
\[ \text{CP} = C_p \times \frac{D}{Q} \] Onde: \(Q\) representa a quantidade de cada pedido (em unidades) e D/Q representa o número total de pedidos (N):
\[ \text{N} = \frac{D}{Q} \]
- Pedir lotes pequenos diminui o custo anual de manutenção (CM), mas aumenta o custo anual de pedidos (CP).
\[ \text{CM} = C_m \times \frac{Q}{2} \]
Q/2 representa o estoque médio (EM).
O Custo Total (CT) é a soma dos dois custos: CP + CM
\[ \text{CT} = \left(C_p \times \frac{D}{Q}\right) + \left(C_m \times \frac{Q}{2}\right) \] Igualando CT a zero, ou de outra forma, CP = CM, temos:
\[ C_p \times \frac{D}{Q} = C_m \times \frac{Q}{2} \]
Multiplicando ambos os lados por Q:
\[ C_p \times \frac{D}{Q} \times Q = C_m \times \frac{Q}{2} \times Q \]
\[ C_p \times D = C_m \times \frac{Q^2}{2} \]
Multiplicando ambos os lados por 2:
\[ 2 \times C_p \times D = C_m \times Q^2 \]
Isolando \(Q^2\):
\[ Q^2 = \frac{2 \times C_p \times D}{C_m} \]
Extraindo a raiz quadrada para obter o LEC (\(Q^*\)), temos:
\[
Q^* = \sqrt{\frac{2 \times C_p \times D}{C_m}}
\]
5.4.2 Simulador LEC
Abaixo você pode visualizar o LEC em operação, ou você pode expandir esse o Simulador do LEC no link:
5.5 Slides da Aula
Abaixo você pode visualizar os slides da aula, ou você pode expandir essa versão dos slides clicando no link:
5.6 Resumo em Áudio
A seguir, você pode ouvir um resumo em áudio do conteúdo desta seção: