6  Projetos em Grupo


O objetivo desse módulo final é criar a oportunidade de o aluno aprofundar (um pouco mais!) nas bases fundamentais das finanças. Em cursos de graduação em negócios (Economia, Administração e Contábeis) temos outras disciplinas de finanças, que o aluno aprende sobre teorias importantes, tal como Estrutura de Capital em Finanças Corporativas (II) de Longo Prazo, no entanto, algumas relevantes teorias são relegadas como optativas ou de carácter secundário, pelo menos, na graduação. A intenção aqui é que o aluno tenha um primeiro contato sobre esses fundamentos.

Abaixo eu apresento um resumo dos capítulos 1 e 2 do Assaf Neto (2014), que faz parte de nossa ementa oficial, principalmente, o conteúdo de Governança Corporativa (Propriedade e administração, e Conflitos de Agência), no entanto, nos projetos em grupos, além da Governança Corporativa, discutiremos a Teoria da Utilidade, Hipóteses de Mercados Eficientes, Teoria do Portfólio, Teoria de Precificação por Arbitragem e Finanças Comportamentais.


6.1 O Objetivo da Empresa e da Administração Financeira

A administração financeira é a área que se ocupa da gestão dos recursos de uma organização, com o objetivo de criar valor. Para entender suas funções, é primordial definir o objetivo central da empresa.


6.1.1 O Objetivo da Empresa

Embora a maximização do lucro seja uma resposta intuitiva, ela é insuficiente como objetivo principal da administração financeira por três razões críticas:

  1. Ignora o Tempo: A maximização do lucro não especifica o horizonte temporal. Uma empresa pode aumentar os lucros de curto prazo ao cortar custos essenciais, como manutenção ou pesquisa, mas essa atitude pode destruir valor no longo prazo.
  2. Ignora o Fluxo de Caixa: O lucro contábil não é sinônimo de dinheiro em caixa. Uma empresa pode registrar lucro em suas demonstrações e, ainda assim, não ter liquidez para honrar seus compromissos, o que pode levá-la à falência.
  3. Ignora o Risco: A meta de maximizar o lucro não considera o risco associado à geração desses lucros. Dois projetos podem ter o mesmo lucro esperado, mas um pode ser significativamente mais arriscado que o outro.

O objetivo mais apropriado e abrangente da administração financeira é, portanto, maximizar a riqueza dos acionistas, que é mensurada pelo valor de mercado de suas ações. O preço da ação reflete as expectativas do mercado sobre os fluxos de caixa futuros da empresa, devidamente ajustados pelo risco e pelo tempo.


6.1.2 Visão dos Shareholders vs. Stakeholders

No centro da discussão sobre o objetivo da empresa está a distinção entre dois grupos:

  • Shareholders (Acionistas): São os proprietários da empresa. A maximização de sua riqueza é o foco principal da gestão financeira, especialmente em modelos de mercado anglo-saxônicos (EUA, Reino Unido). Os acionistas são considerados os “proprietários residuais”, pois só recebem seu retorno após todos os outros compromissos da empresa serem pagos.
  • Stakeholders (Partes Interessadas): É um grupo mais amplo que inclui qualquer indivíduo ou entidade com interesse na empresa, como funcionários, clientes, fornecedores, credores e a comunidade.

Embora o objetivo primário seja a maximização do valor para o acionista, uma gestão eficaz reconhece que a criação de valor no longo prazo depende de um relacionamento saudável com todos os stakeholders. Ignorar os interesses dos funcionários ou clientes, por exemplo, inevitavelmente prejudicaria a reputação e os resultados da empresa, destruindo o valor para o acionista.


6.1.3 As Decisões Fundamentais: Investimento e Financiamento

A atividade do administrador financeiro pode ser resumida em duas decisões centrais, que se refletem diretamente no balanço patrimonial da empresa:

  1. Decisão de Investimento (Orçamento de Capital): Refere-se à alocação de recursos em ativos de longo prazo. Envolve decidir em quais projetos investir, como a construção de uma nova fábrica ou o lançamento de um produto. Essas decisões determinam a composição do lado esquerdo do balanço (Ativos) e são consideradas as mais importantes para a criação de valor.
  2. Decisão de Financiamento (Estrutura de Capital): Refere-se à forma como a empresa obterá os fundos necessários para seus investimentos. Envolve a escolha entre capital de terceiros (dívida) e capital próprio (ações). Essas decisões moldam o lado direito do balanço (Passivo e Patrimônio Líquido).


6.1.4 Gestão de Curto e Longo Prazo e o Foco no Fluxo de Caixa

As decisões financeiras também se dividem pelo horizonte de tempo:

  • Gestão de Longo Prazo: Envolve as decisões de investimento e financiamento mencionadas acima, que definem o futuro estratégico da empresa.
  • Gestão de Curto Prazo: Foca na administração do capital de giro (ativos e passivos circulantes), garantindo que a empresa tenha liquidez para suas operações diárias.

Um princípio fundamental que norteia todas essas decisões é o foco no fluxo de caixa. A contabilidade opera sob o regime de competência, registrando receitas quando a venda é feita, e não quando o dinheiro é recebido. Finanças, por outro lado, operam sob o regime de caixa, preocupando-se com as entradas e saídas efetivas de dinheiro. Uma empresa pode ser lucrativa do ponto de vista contábil, mas insolvente se não gerar caixa suficiente para pagar suas obrigações.


6.2 Governança Corporativa

Governança corporativa é o sistema de regras, práticas e processos pelo qual uma empresa é dirigida e controlada. Sua principal função é alinhar os interesses dos gestores com os dos acionistas, mitigando os conflitos que surgem da separação entre propriedade e gestão.


6.2.1 O Conflito de Agência

O problema de agência surge quando há um conflito de interesses entre o principal (os acionistas) e o agente (os administradores contratados para agir em nome dos acionistas). Os gestores podem, por exemplo, priorizar a segurança de seus empregos ou benefícios pessoais em detrimento de projetos arriscados que poderiam maximizar o valor para os acionistas. Os custos decorrentes desse desalinhamento são chamados de custos de agência.


6.2.2 Conflitos de Agência: Diferenças entre Brasil e EUA

A natureza do principal conflito de agência varia conforme a estrutura de propriedade do capital, que é notavelmente diferente entre o Brasil e mercados como os EUA e o Reino Unido:

  • Nos EUA e Reino Unido, o capital das grandes empresas é tipicamente pulverizado, sem um acionista controlador claro. Nesse cenário, o principal conflito de agência ocorre entre gestores profissionais e os acionistas dispersos. A preocupação central da governança é garantir que os executivos atuem no melhor interesse dos proprietários.
  • No Brasil e na Europa Continental, a estrutura de propriedade é caracterizada pela alta concentração de capital, onde um único acionista ou um pequeno bloco de acionistas detém o controle da empresa. O principal conflito, portanto, ocorre entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários. A governança busca proteger os minoritários de decisões que possam beneficiar desproporcionalmente os controladores.


6.2.3 Mecanismos de Governança

Para mitigar os problemas de agência, as empresas utilizam diversos mecanismos de governança:

  • Conselho de Administração: Eleito pelos acionistas para supervisionar a gestão e tomar decisões estratégicas. A presença de conselheiros independentes é crucial para um monitoramento eficaz.
  • Remuneração dos Executivos: Planos de incentivo, como opções de ações e bônus atrelados ao desempenho, que alinham a riqueza dos gestores à dos acionistas.
  • Monitoramento Externo: Auditorias independentes, analistas de mercado e grandes investidores institucionais que fiscalizam as ações da empresa.
  • Ameaça de Aquisição (Takeover): Empresas mal administradas podem se tornar alvos de aquisição, o que pressiona a gestão a melhorar o desempenho para evitar ser substituída.


6.3 Importantes Teorias de Finanças

A moderna teoria financeira é sustentada por diversos pilares teóricos que buscam explicar o comportamento dos mercados e dos investidores.

  • Teoria da Utilidade: Proposta por Bernoulli, esta teoria postula que os investidores não buscam maximizar o retorno em si, mas a “utilidade” ou satisfação que a riqueza proporciona. Isso explica por que indivíduos têm diferentes perfis de risco (aversão, neutralidade ou propensão ao risco), pois a utilidade marginal da riqueza é decrescente para a maioria das pessoas.
  • Hipótese dos Mercados Eficientes: Desenvolvida por Eugene Fama, esta teoria afirma que os preços dos ativos em um mercado eficiente refletem instantaneamente toda a informação disponível. Uma consequência direta é que se torna extremamente difícil obter retornos anormais (ou “bater o mercado”) de forma consistente, pois não haveria ativos sub ou sobreavaliados.
  • Teoria do Portfólio: Formulada por Harry Markowitz, esta teoria revolucionou a gestão de investimentos ao demonstrar que o risco de um ativo não deve ser avaliado isoladamente, mas por sua contribuição ao risco total de uma carteira diversificada. A diversificação permite reduzir o risco não-sistemático sem necessariamente sacrificar o retorno esperado.
  • Teoria de Precificação por Arbitragem (APT): Proposta por Stephen Ross, a APT é um modelo de precificação de ativos que, diferentemente do CAPM (que usa um único fator de risco, o mercado), sugere que o retorno de um ativo é uma função linear de múltiplos fatores de risco macroeconômicos, como inflação, produção industrial, entre outros.
  • Finanças Comportamentais: Este campo de estudo, impulsionado por psicólogos como Daniel Kahneman e Amos Tversky, desafia o pressuposto da racionalidade total dos investidores. Ele investiga como vieses cognitivos e emocionais (como excesso de confiança, aversão à perda e comportamento de manada) afetam as decisões financeiras e podem levar a anomalias e ineficiências nos mercados.


Outros recursos didáticos

Nesta seção, falamos um pouco sobre o objetivo da empresa, os conflitos de interesse que podem existir na perseguição desses objetivos (Governança Corporativa) e apresentamos algumas teorias basilares que nos ajudam a entender as finanças. A introdução desses princípios é importante para vocês continuarem a busca.

Abaixo, você encontrará outros recursos didáticos que objetiva resumir os conceitos apresentados por aqui:

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